Presidenciáveis e Agronegócio Defendem Alimentar o Mundo com Fome no Brasil
Fonte: Greenpeace Brasil
Enquanto o atual Presidente, Jair Bolsonaro,
tem feito a defesa de alimentar o mundo, aumentando a fome no país, as
propostas de alguns presidenciáveis sobre o agronegócio são desconhecidas e de
outros contraditórias. Não podemos continuar exportando alimentos para servir
de rações de bois e vacas nos países desenvolvidos, enquanto muitos de nossos
compatriotas não tem um pão para comer.
Estamos diante de um modelo de agronegócio
perverso e insustentável, baseado na exploração de pessoas, escravidão,
concentração de riquezas, poluição, destruição ambiental, entre outros, a
exemplo do envenenamento da sociedade com agrotóxicos. É um modelo que prejudicou
a industrialização do país, que poderia estar oferecendo bons empregos à
sociedade.
É um modelo que utiliza tecnologias do século
21 em mentalidades dos séculos 16 e 17 na forma de conduzir a agricultura, com
uma dualidade inaceitável, ou seja, a Grande Agricultura de um capitalismo
selvagem, de ganhos excessivos com toda a proteção estatal e a Agricultura
Familiar, voltada para amenizar a fome, sem o necessário e devido apoio para
sobreviver. Este país é carente de uma análise dos grandes financiamentos às
grandes corporações do agronegócio, com recursos públicos, e o aumento da fome resultante de uma governança criminosa.
É preferível para os presidenciáveis não
fazerem propostas nenhuma para o setor, que requer mudanças e reformas
profundas. Não se está aqui defendendo reformas socialistas ou comunistas, como
sempre fala a extrema direita nazista do país. O que se está defendendo é a
manutenção de um sistema capitalista responsável, com mais ética e uma nova
governança dentro do desenvolvimento sustentável e não apenas o desenvolvimento
econômico.
Por suas características, a sociedade
brasileira não é contra milionários e bilionários ganharem dinheiro. Deseja
apenas que a acumulação de riquezas no país seja compartilhada na forma de
desenvolvimento social e sustentável. Na realidade, não deveriam ser os
presidenciáveis que estivessem propondo mudanças de um sistema insustentável, mas
o próprio empresariado do setor.
Como falar num sistema alimentar orientado para
alimentar o mundo se não temos sequer um sistema alimentar voltado para
alimentar a população brasileira, com elevado percentual dos que vem passando
fome, tendo muita sorte aqueles que enfrentam as filas de ossos.
No atual governo milhões foram empurrados para
a fome e o país nunca teve uma situação como esta. Basta ler os últimos
relatórios da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a
Agricultura (FAO/ONU), mostrando que o atual governo não priorizou o combate à
fome. Por sua vez, é assustador o relatório da Rede Brasileira de Pesquisa em
Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PENSSAN) mostrando o pior
índice da insegurança alimentar no Brasil. “Em 2004, o país tinha 64,8% da
população em segurança alimentar, hoje tem 44,8%.”.
Há mais de trinta anos que se fala da busca de
um desenvolvimento sustentável e nada aconteceu em vários setores da economia
brasileira. O que se tem feito, no caso do agronegócio, é uma propaganda
enganosa através da imprensa burguesa, insinuando até que o agro é pop, quando
na realidade nosso agro é tóxico.
O que se
observa no momento é que as gerações mais velhas estão diante de um dilema
moral e ético devido aos reclamos ferozes das gerações mais novas,
principalmente da chamada Geração Z, ou seja, os nascidos entre 1996 e 2011,
que mais tem se preocupado com as questões ambientais.
Diante dos fatos ecológicos, não é exagerado
dizer, lamentavelmente, que estamos vivendo em tempos extremos em que preparar
as crianças para o futuro significa prepará-las para a possibilidade de não
terem um futuro. Os riscos são reais e devemos enfrentá-los com muita
habilidade, vontade política e uma profunda consideração ética, a menos que se
queira simplesmente suspirar e baixar a cabeça com vergonha.
Não se pode ter muitas ilusões de que os jovens
se transformem em bons, convivendo com os ruins, dotados de comportamento ganancioso, de usura e que exploram a Natureza como recurso, de forma
descontrolada para acumular bens e fortalecer poder. As gerações mais velhas
não parecem querer levar a Geração Z a desenvolver atitudes de respeito e de
preservação ambiental, refletir sobre os problemas locais, regionais e globais,
propondo soluções para suas causas.
Não se espera mudanças bruscas no setor, mas os
presidenciáveis não deveriam temer em falar delas, simplesmente com medo de
perder apoio de grupos dominantes. O momento é de buscar o apoio do empresariado
do setor para, no mínimo, se delinear um plano de um sistema alimentar sustentável, para reduzir a fome no Brasil. O empresariado sabe como fazer
isto, mas depende de um governo que queira combatê-la.
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