Responsabilidade Empreendedora nos Estudos de Empreendedorismo

 

Fonte:Inesc.org.br

Surgido há muito tempo como mais um modismo nas Escolas de Administração, do ponto de vista crítico empreendedorismo foi visto até como um discurso oportunista nas crises do capitalismo neoliberal, motivando os desempregados criarem seu próprio negócio.

Depois se tentou avançar com o discurso de responsabilidade social corporativa, incentivando as corporações avançarem em atividades filantrópicas para amenizar também a crise do capitalismo. Este empreendedorismo social serviu mais para melhorar a imagem das corporações do que reduzir as desigualdades sociais no mundo.

Isto foi plenamente exemplificado durante a Pandemia, quando os ganhos e lucros das corporações alcançaram seu auge, com um acelerado aumento das desigualdades sociais no mundo inteiro. Para salvar a riqueza de ações empreendedoras, vamos mostrar o que faltou no discurso de empreendedorismo, responsável por tantos fracassos. 

Precisamos compreender que com o discurso de responsabilidade social corporativa tentou-se desumanizar a responsabilidade na pesquisa em empreendedorismo, ou seja, a responsabilidade foi relegada e passou-se a discutir a responsabilidade social das empresas que, por sua vez, foi adaptado do conceito de responsabilidade social corporativa.

Surpreendentemente, apesar do caráter humano óbvio de responsabilidade, tenta-se associá-la mais com as empresas do que com os indivíduos. Muito menos é conhecido sobre a responsabilidade individual ou moral. Daí a natureza e papel da responsabilidade empreendedora.

Neste caso, as ações humanas devem respeitar códigos morais e éticos, sem ferir os elementos do ecossistema empreendedor, nas dimensões econômicas e sociais. Estabelecer um novo negócio ou implementar inovações só são desejáveis quando o empreendedor assume a responsabilidade por suas consequências.

Portanto, a educação em empreendedorismo deve focar num fazer consciente e responsável e só tem sentido se caminhar nesta direção, enfatizando dois conceitos importantes na teoria e prática da educação em empreendedorismo – experiencia empreendedora e responsabilidade empreendedora, com base nos escritos educativos e filosóficos clássicos.

Surpreendentemente, nem a responsabilidade nem a experiencia estão suficientemente presentes na discussão de como e por que aprender e ensinar empreendedorismo. A experiencias na educação em empreendedorismo geralmente é entendida de forma estreita e simplista. A responsabilidade é muito menos presente e aparece de forma fragmentada quando se debate a ética em empreendedorismo e se tenta adaptá-la à responsabilidade social corporativa no contexto de pequenos negócios.   

Neste caso, a educação em responsabilidade empreendedora deve ser enfatizada em todos os campos de ensino e educação, principalmente nos cursos de ciências sociais e humanas, a exemplo de ciências políticas, economia, ciências contábeis, direito, administração, psicologia, sociologia, entre outros, de modo que se construa e amplie o conhecimento de ensino e pesquisa no país.

Qualquer pessoa deve empreender suas ações e atividades, sem necessariamente pensar em iniciar seu próprio negócio, enfatizando os princípios éticos e morais e pensando no bem-estar da sociedade. Não adianta falar em responsabilidade social das empresas ou corporações e empreendedorismo social, se as práticas antiéticas e individuais são predominantes, com o intuito de ganância e aumento de lucros.

Recentemente mostramos o quanto o consumidor ético é carente de informações das inovações que surgem todos os dias. Foi dado o exemplo do mercado da carne baseada em plantas, diante das críticas que começam a surgir sobre a falta de transparência das empresas líderes destes produtos no mercado americano. Estas empresas devem assumir a responsabilidade não só pelo que estão produzindo, mas pelos danos que estão causando ao meio ambiente. Substituir a carne animal por plantas pode trazer melhorias ambientais fundamentais, mas não isentam estas empresas de que simplesmente não afetam o meio ambiente.

Por outro lado, na esfera pública, o Brasil tornou-se o maior exemplo de irresponsabilidade, quando durante a Pandemia foi registrada a criminosa negligência das autoridades públicas de cuidarem da população, que foi vítima de um alarmante indicador de mortalidade.

Enfim, sob uma perspectiva ética e moral, o campo de pesquisa em empreendedorismo ainda é inexplorado. O Brasil talvez seja um dos lugares mais férteis do globo terrestre para se avançar nesta direção. Acordem dorminhocos! Nossa casa está em chamas.

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