Ministros de Finanças do G20 Sem Declaração Conjunta - Guerras
Fonte: France 24
Ministros de finanças e chefes de bancos centrais do Grupo das principais economias do G20, depois de dois dias de reuniões em São Paulo, Brasil, discutindo um novo conceito de globalização, abrangendo pobreza, inclusão, mudanças climáticas e desigualdade, não chegaram a uma declaração conjunta do que discutiram.
Ao invés
disto, fugiram do assunto e se apegaram aos interesses das grandes potenciais –
conflitos e guerras na Ucrania e Israel-Hamas, onde se vem registrando um
genocídio abominável, denunciado por alguns países, incluindo o Brasil.
Estiveram
presentes figuras importantes do mundo financeiro, como a secretária do Tesouro
dos EUA, Janet Vallen, o ministro de Finanças da Alemanha, Christian Lindner, a
chefe do FMI, Cristalina Georgieva, a ministra de Finanças, da Mulher e do
Serviço Público, a senadora Katy Gallagher, da Austrália que “apoia a
presidência do Brasil no G20 e ambiciosa agenda” e outros decisores políticos
de topo estão na capital financeira brasileira para a reunião de dois dias,
embora tenha se registrado algumas ausências, incluindo os ministros de
finanças da China, da Índia e da Rússia.
A agenda
defendida por Fernando Haddad, ministro da Fazenda do Brasil, é realmente
ambiciosa, dificultando a sua concretização. Em primeiro lugar, como vimos, a
agenda das grandes potências é sobre guerras, especialmente a da Ucrânia-Rússia
e Israel-Hamas, onde o genocídio está em curso.
Assim
sendo, a agenda de guerra e as divisões foram suficientes para encerrar a
primeira reunião dos ministros de finanças do G20, nesta quinta-feira, sem uma
declaração conjunta.
Em segundo
lugar, sem uma reforma profunda dos sistemas financeiros em muitos países, não
há possibilidade de qualquer mudança. Mudanças em algumas organizações como as
Nações Unidas foram propostas pelo Presidente Lula da Silva, mas os nossos
sistemas financeiros permaneceram intocáveis. O tema sobre finanças sustentáveis
tem sido proposto há bastante tempo, mas até agora não existe uma proposta
consistente de finanças sustentáveis por parte dos sistemas financeiros.
No caso do
Brasil, está comprovado que o modelo econômico do governo Bolsonaro-Guedes
acentuou a pobreza no Brasil, com terríveis desigualdades e a forma como foi
aprovada a independência do Banco Central só irá piorar a situação deste país,
exigindo uma mudança urgente, para que o poder legislativo assuma a
responsabilidade pela política monetária e, consequentemente, pela nossa
democracia.
A ideia de
independência do Banco Central foi desenvolvida por economistas liberais
(Escola de Chicago) e tornou-se hegemónica, sendo implementada tanto por
governos conservadores como progressistas em vários países. Portanto, com o
triunfo do neoliberalismo, a ideia de independência do Banco Central proliferou
nas economias avançadas, mas o tema é amplamente criticado e as suas bases
teóricas contestadas.
Para o
professor de Direito Lev Menand, da Columbia Law School, nos Estados Unidos,
tanto o Poder Executivo quanto o Legislativo repassaram suas atribuições ao
Banco Central, o chamado Federal Reserve (FED), que ao longo dos últimos 15
anos vem colocando o projeto dos Estados Unidos em risco.
Com
intervenção nas políticas públicas e na vida económica, o FED incentiva o
mercado financeiro em detrimento da economia produtiva, aumentando as
desigualdades e acentuando a disparidade de riqueza.
Com o desmantelamento do arcabouço jurídico do
FED, beneficiando o mercado financeiro, o professor Lev Menand critica a
estrutura da instituição, dominada por economistas bem formados, mas sem novas
ideias, consenso e vontade de mudança. Para ele, a instituição precisa
priorizar outras profissões, principalmente da área jurídica.
Finalmente,
o FED é hoje a instituição mais poderosa dos Estados Unidos, com muitos a
criticarem as suas operações. O professor Lev Menand, como economista e antigo
conselheiro do secretário do Tesouro americano, vai mais longe, colocando os
riscos para a democracia americana ao dizer que “sem estabilidade econômica e
monetária, a democracia não sobrevive”. O FED, depois de mais de um século, não
conseguiu isso.
A sociedade
brasileira sofre com isso há muitos anos, principalmente os menos
privilegiados. Por sua vez, a indústria não alavanca, pois é muito claro que as
políticas monetárias beneficiam o mercado financeiro, violando os direitos
humanos e colocando em risco a nossa democracia.
Recentemente,
o Banco Central foi entregue aos monstros do capitalismo, tornando-se
independente. Além disso, a maior parte dos acadêmicos dos sistemas financeiros
são responsáveis pela reprodução de uma estrutura de poder e exclusão, defendendo e mantendo o status quo de
um sistema financeiro insustentável e perverso.
Vale a pena
citar aqui o que disse o grande jurista norte-americano Louis Brandeis:
“Devemos fazer as nossas escolhas. Podemos ter democracia, ou podemos ter a
riqueza concentrada nas mãos de poucos, mas não podemos ter as duas coisas”.
Comentários