Reprodução de Poder dos Bancos Centrais Num Mundo em Chamas
Fonte: Banco Central
Logo no início de seu governo, o Presidente Lula entrou em conflito com o Presidente do Banco Central, enfrentando uma estrutura de reprodução de poder em nosso sistema financeiro, sempre fortalecida pela elite acadêmica do país. Num mundo em chamas, o Banco Central do Brasil no governo anterior esteve contemplando o incêndio da Amazônia.
Os
principais objetivos de Bancos Centrais (objetivos primários) na maioria dos
países lidam com a política monetária e a estabilidade de preços, embora não
esteja claro o que isso significa. No entanto, foi proposto que o Banco Central
Europeu tenha em conta outros objetivos (objetivos secundários) para “apoiar as
políticas econômicas gerais na EU” e contribuir com a realização dos objetivos
da União”.
O que o
presidente Lula queria era que as altas taxas de juros do Banco Central do
Brasil estivessem mais sintonizadas com as políticas econômicas do governo,
como é defendido por muitos economistas brasileiros. O Banco Central acabava de
se tornar independente, com o apoio de um Congresso conservador de direita.
Para o
economista brasileiro Guilherme Narciso de Lacerda, “Aceitar que o Banco
Central seja uma Instituição à parte, cuja função é apenas administrar o
remédio (único) para segurar a febre e que o problema da economia brasileira
tem que ser resolvido pela política fiscal é um erro que leva a consequências
muito graves para nosso País”. Para ele, a política monetária compõe a política
econômica.
Comenta-se que
os economistas dos Bancos Centrais, mantendo um pé tanto no campo acadêmico
como no campo burocrático, podem forjar um aparato analítico que poderia
orientar e legitimar tais intervenções dos Bancos Centrais no funcionamento da
economia. Sem serem eleitos, o poder dos Bancos Centrais pode facilmente
arregimentar aliados no campo da economia acadêmica.
Embora os
nossos artistas estejam muito preocupados e cantando sobre um mundo em chamas,
deveria ser um grande desafio para os Bancos Centrais considerarem os riscos
climáticos numa reinterpretação da sua política monetária tradicional.
Esta é uma
tarefa difícil para os Bancos Centrais, que lutam sempre pela independência.
Para lutar contra os riscos climáticos, é necessário uma legitimidade
democrática e um debate político intenso. Como enfrentar o dogma monetário
neste debate? Não vejo como discutir os riscos climáticos e a independência de
Bancos Centrais.
O exemplo
no Brasil foi que, enquanto a Floresta Amazônica estava sendo devastada, um
Congresso Nacional de direita aprovava a independência do Banco Central.
Durante esse período, não se registrou qualquer debate político sobre a
Amazônia em chamas.
O que
necessitamos em todo o mundo não é a independência de Bancos Centrais, mas sim
melhorar a legitimidade e a responsabilização destas instituições.
Infelizmente, o debate público sobre esta questão é silencioso e o mandato restrito
de Bancos Centrais não é questionado.
Em suma, o
mundo em chamas está fora do âmbito da política monetária e não é um dos
pilares centrais da teoria moderna dos bancos centrais, especialmente agora que
são declarados o “banco central mais independente de todos”. Nesta perspectiva,
já foi mencionado que apoiar políticas econômicas e combater as mudanças
climáticas “não é nada que um banco central independente deva fazer”.
Agora, o Banco
Central do Brasil quer mais poder e exige da sociedade brasileira sua autonomia
financeira. Mas, até que ponto o Banco Central está prejudicando as políticas econômicas
do país através de medidas monetárias?
Num mundo
em chamas e mudanças climáticas, precisamos que as decisões sejam tomadas
apenas por instituições políticas estritamente responsáveis, evitando a reprodução
de um poder nefasto tanto no Banco Central como em nosso sistema financeiro.
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